Como a gente acolhe o medo? 

Eu escrevi recentemente sobre o acolhimento sem julgamento, mas me sinto um pouco hipócrita quando penso que estou exercitando o acolhimento de todo sentimento e ação, exceto por um: o medo. 

Quando o medo vem, eu tento espantar o pensamento com qualquer outra coisa pra fingir que nada está acontecendo e que  está tudo bem. 

A raiva, a tristeza, a fúria, a mágoa e a dor parecem bem mais fácil de serem superadas. É um trabalho interno de acolher e por no lugar. Agora o medo parece impreciso e que não dá nem pra existir em certas situações e você nem imagina o “medo do que” acontecer. O “do que” parece tão distante e intangível.  O “do que” desse medo parece insuportável, inaceitável, desesperador. Sombrio. O “do que” de tanto medo deve ser normal, e ok, mas o que a gente faz com tanto medo? 

Não vou listar meus medos aqui porque já fiz em outro Bloco de Notas particular, mas a verdade é que o “do que” do medo não é invisível e não desaparece em um passe de mágica. Não vai embora com terapia nem consulta ao mapa astral. Talvez ele se vá com orações será? Não sei. O medo só se vai depois que tudo passa, seja como passar. 

Até aqui, eu tinha escrito esse Bloco de Notas antes de uma sessão de autoconhecimento. Não apaguei nada, porque diz muito sobre o que eu sinto genuinamente, no entanto, depois dela eu entendi algo mais profundo: o medo passa quando a gente entende e acolhe de onde esse medo vem.

O que levou a senti-lo? Quais são as camadas que estão aí pra serem analisadas, compreendidas, aceitas e guardadas nos lugares delas? O que veio antes dele pra senti-lo agora? O que tem por trás? Qual é a raiz desse medo?

Se você me perguntar, eu tenho um longo caminho pra trabalhar. Ainda não acolhi meu medo, mas também não julguei. O que eu sei é que ele vai passar. Porque se a gente tem uma, duas ou dez chances na vida, a gente tem que aproveitar. E não por aquela expressão de “vai com medo mesmo”, mas aproveitar olhando pra trás com carinho, cuidando da raiz desse medo e permitindo que ele se coloque no seu devido lugar. É isso que eu escolho, seguir em frente com cuidado e amor.