Há quatro semanas, minha doctorzinha (como eu chamo minha terapeuta) me perguntou: “o que te incomoda em você?”. Se ela tivesse me perguntado isso meses antes, eu teria listado um pergaminho inteiro de coisas que não gostava em mim, de motivos pelo qual me culpei, sofri e me arrependi. Mas quando ela me perguntou eu pensei, pensei e pensei e minha resposta foi: “não sei, posso responder semana que vem?”. Na semana seguinte, respondi: “nada, nesse exato momento, eu estou feliz e satisfeita com quem eu sou, quem eu me tornei e orgulhosa dessa Beatriz Arvatti que está aqui falando com você”. O que mudou de lá para cá? Aceitação.
Calma, não me entenda a mal. Isso é diferente de não ter defeitos. É óbvio que sou cheia deles, mas aceitação é literalmente você aceitar o jeito que você é e tudo o que faz parte da sua personalidade, atitudes e aparência – não sejamos hipócritas, todo mundo se preocupa um tiquinho que seja com estética. Tem que vai gostar, tem quem não vai gostar e está tudo bem. O importante é você estar feliz consigo interna e externamente. É abraçar quem você é. De verdade, sabe?
E está tudo bem não gostar de algo em você, seja seu nariz, a forma como você mastiga ou seu hábito de procrastinar. Está tudo bem se sentir não tão bem assim porque seu corpo não é como você queria, porque você adora tirar foto de tudo toda hora, porque gosta ou não de fazer declaração para amigos e amores em público, porque ama postar, porque sonha pequeno demais ou alto demais, porque quer viajar o mundo ou ficar fixo em um lugar. Está tudo bem sentir, porque se te incomoda, é alguma coisa. Mas o que não está tudo bem, é não fazer nada por você. Porque a única pessoa que tem que gostar de quem você é, como é e o que faz: é você. Então, se a sua aparência não está como você gosta, se algo no seu jeito de levar a vida te incomoda, se seus sonhos não estão se realizando e a vida anda pesada, então bora fazer algo que vai dar um up na sua autoestima e te ajudar a se aceitar.
Se você me perguntar, essa autoaceitação veio aos poucos por aqui. Em questão de aparência, eu não gostava do meu nariz, é verdade, mas lá na adolescência mesmo aprendi a aceitar. Em questão de deficiência foi um longo processo – mas essa história fica para outro dia, é um outro passo de coragem, quem sabe? Bem, no geral, eu sempre gostei da Beatriz Arvatti e como diz doctorzinha “Você já era Beatriz Arvatti antes de tudo”. De fato, mas houve uns meses de 2020, pós término de uma relação e de uma amizade ao mesmo tempo, que eu realmente comecei a me questionar e dizer “Beatriz, você não podia ter percebido antes que esse seu jeitinho não é o mais agradável de se lidar e que você foi péssima de não agir diferente?” ou então “pra quê você foi contar isso aquele dia?” ou “Seu problema é demorar para confiar e confiar muito quando confia” – o mesmo para amar. Não percebi e já foi. Por meses escrevi para mim mesma e para o outro tanta coisa. Inúmeros bloco de notas e folhas de papel. Falei em incontáveis sessões de terapia, mais de uma vez por semana. Gritei comigo mesma por dentro e por fora. Até que em um estalo, num dia como outro qualquer, eu percebi: Beatriz Arvatti, você é uma baita de uma mulher (aqui você pode ler com uma palavra chula que eu não gostaria de escrever, mas pode pensar nela para dar intensidade ao “baita”). Foi ai que me olhei no espelho e descobri que apesar de todos os defeitos de personalidade e aparência, eu realmente amo quem eu sou e, principalmente, quem eu me tornei depois de cada episódio muito ruim e cada temporada maravilhosa também que é essa série da minha vida. Que está tudo bem eu ter errado e me arrepender pelo meu comportamento, mas foi exatamente isso que me fez amadurecer e ser melhor hoje. E o principal da autoaceitação: se você aceita o outro em seus muitos defeitos também e ele não te aceitou, vira a página e segue em frente, porque o que importa é você se aceitar. Vale para amores, amigos, colegas de trabalho, familiares e qual seja a sua situação.
Meses depois desse episódio ruim e semanas depois da pergunta da doctorzinha… no último final de semana, me encontrei numa conversa sobre aceitação no carro, durante uma viagem especial. Dessa conversa aliás, surgiu esse texto. E depois de escutar tudo o que ele tinha para me falar sobre sua visão de aceitação e autoaceitação, eu parei e pensei: a gente realmente só aceita o outro quando nos autoaceitamos, não é mesmo?
Parabéns pelo texto …
E sim vc é uma baita mulher !!!
Maravilhoso o seu texto, Beatriz, como sempre nos faz refletir sobre como estamos conduzindo a nossa vida, cheia de imperfeições, aflições, desejos… etc etc.
Tenho muito orgulho desta “baita” mulher que você se tornou… Dentre outras coisas a forma impar com você escreve, sempre intensa, mas com muita leveza. Parabéns e continue nos “provocando” com estes textos incríveis e questões emblemáticas da vida.
O que dizer além de: necessária né?! Não é um caminho fácil, mas tento amigas que nós inspiram assim, fica mais leve ♥️
Texto que nos força olhar para nós mesmos e refletir.