(Toda vez que eu falo “você”, estou falando pra mim e pra você, de mim e de você)
Não sei se você ja se acolheu hoje. Abri os olhos achando que sim, fechei os olhos achando que não.
Talvez você consiga fazer isso depois de escrever.
E como é difícil se acolher. Como é difícil não se julgar. Não parece até fácil não julgar o outro agora?
Como é difícil respeitar e acolher o fato de você agir diferente de tudo que sempre achou que ia agir numa determinada situação. É tão inesperada essa reação e esse sentimento. É tão inesperada a situação.
Todo segundo nas últimas 40 horas, parece que eu estou vivendo com outro você.
Você não xingou, você não bateu, você não saiu correndo, você não respeitou, você não se preveniu, você não entendeu nada, você não soube dizer, você não se comunicou. Você não teve certeza. Você não fugiu de sentir nem antes nem depois. Você sente amor e não sente ódio. Você não sentiu o que tinha que sentir, mas o que era pra você sentir? Como é que você sabe o que está sentindo? Como é que você vai saber nas próximas 40 horas?
Você não viu o pôr do sol nos últimos dias. Você vai ver de novo o pôr do sol algum dia?
São tantos questionamentos. Por que você está agindo assim agora? Tantos julgamentos. Tantos sentimentos sem sentido. Como é que você vai saber se está sentindo ou pensando?
Se não é o tempo e é a pessoa, que pessoa em que tempo?
Se um dia você não teve paciência de esperar que o tempo resolvesse ou se um dia você teve paciência de mais, como é que o tempo vai consertar tudo isso no agora? Como é que você pode querer consertar tudo se querer consertar é totalmente contra tudo que você já pensou ou já disse um dia?
No antes, no agora e no depois… no tempo de quem você vai saber?
Se Aíôn é o tempo sagrado, eterno e imensurável, eterno pra quem? Imensurável pra quem? Pra você será? E como é que você ainda pode querer que seja eterno?
Se Kairós não tem hora marcada no tempo cronológico e físico determinado por Chronos quando é que você vai saber? Como é que hoje você vai saber quando você vai saber? Em 4 dias? Em 36 dias? Em 4 anos?
Sabe de uma coisa? A frase “não é o tempo, é a pessoa” nunca foi tão clara. Acho que agora, você pode perceber o risco, o perigo e a oportunidade que existe em cada instante. A oportunidade. Você pode enxergar a oportunidade do acolhimento da única pessoa que importa agora: você.
Você já se acolheu hoje? Já acolheu esse turbilhão de sentimentos nesse labirinto de emoções que é essa situação? Já acolheu as suas emoções?
Se eu estiver perguntando pra mim mesma, depois de escrever e escrever: sim, eu entendi o que é acolher minhas emoções agora, sem julgamento.
