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(RES) significar – Beatriz Arvatti

(RES) significar

A vida é cheia de significados. Amigos marcam, amores marcam. E quando quem importa deixa de ser parte da nossa vida temos que (RES) significar.

A vida é cheia de significados. Nós somos cheios de significar os momentos da vida. Vai ver é porque as pessoas que importam deixam suas marcas quando passam por nós. Amigos marcam, amores marcam. Tem quem passe na vida só para deixar algo, seja bom ou ruim. Tem quem marque com uma música, uma cor, um gesto, um presente, uma viagem, um filme, uma série, um relacionamento ou só um date. Tem quem marque com tudo isso. E quando quem importa deixa de ser parte da nossa vida, a culpa não é dos significados que nos lembram dessas pessoas e é por isso que cabe só a nós mesmos (RES) significar.

Ressignificar é recriar sozinho o que um dia foi criado em conjunto. E é libertador saber lidar com os novos significados, seja de uma música, um lugar ou uma cor.

Se falarmos de músicas, elas costumam representar momentos, situações ou pessoas e quando chega ao fim daquela jornada, demora até entendermos que aquela canção não é sinônimo de raiva, de sofrimento, de tristeza ou de mágoa. É só uma linda (ou não) música e não tem que doer. Eu chamo essa tomada de consciência de “fazer as pazes com a música que eu gosto”.

Comigo, She Will Be Loved continuou sendo “She will” depois que minha melhor amiga nunca respondeu o áudio ao vivo no último show do Maroon 5. Com Naked do James Arthur, a tristeza demorou mais do que devia, mas era só uma paixonite de três meses, nem doeu tanto assim. Evidências me lembra um bar carioca no meio de um carnaval com um grupo que deixou de ser. Sugar me faz pensar na estrada de um Réveillon de três dias na praia, com duas garotas doidas fazendo amizade por ai. Goodnight Goodnight (oi Adam Levine de novo) eram só lágrimas quando eu achava que estava vivendo o amor correspondido mas impossível com meu melhor amigo. Scracho me leva à uma Beatriz de 18 anos indo atrás de uma banda com as amigas da faculdade (e a banda nem era Scracho, detalhe). Love on the Weekend – ai ai John Mayer – me faz viajar de volta para um final de semana em Chapada dos Veadeiros quando já tinha amor e eu nem sabia, assim como com Whiskey. Com Photograph, do Ed Shereen, percebemos que era nossa música quando não existia mais o nós e é um último vídeo de voz e violão com metade dessa música que talvez eu nunca escute a versão inteira. E eu nem vou começar a falar aqui de Sandy&Junior, que tem história da Beatriz Arvatti de 1994 a 2020 e continuamos contando, de Não Ter a Inesquecível. Tem muito mais músicas que me lembram alguém, mas sabe o que eu aprendi?

As pessoas vão, as playlists ficam.

No meu Spotify, até as playlists compartilhadas ficaram. A “Nunca mais devemos ouvir” continua guardada sem nunca mais escutar o que está lá. A “ice cream” está ali para reutilizar no momento certo. As “cachu trip”, “beach trip”, “snow trip” e a da estrada com nome tonto de casal estão ativas até hoje e me lembram todas essas viagens. E está tudo bem. São só músicas (ótimas músicas, aliás).

Viagens e lugares também remetem a significados. Comigo, Moçambique sempre será minha infância. O Chile sempre será a aventura de uma Beatriz se jogando de cabeça em 2019 e tudo que estava por vir. Florianópolis, mesmo depois de ter voltado lá, ainda é a viagem de formatura do colégio. A praia da Juréia é a viagem com a família dos meus sonhos. Londrina ainda é minha segunda casa e não sei se terei outra um dia. Paraty é o começo de algo não tão bom que, para mim, estava escondido enquanto eu radiava de felicidade aqueles dias. Ilhabela é meu segredo. Chapada dos Veadeiros… ai ai Chapada… Bariloche nunca vai deixar de ser o passeio na Isla Victoria, a neve pela primeira vez e o momento azul mais lindo. Aliás, as cores marcam também e se ontem a cor azul enchia meus olhos de lágrima, hoje é só azul. É só uma cor, só um emoji, só uma flor.

Ressignificar para mim foi ganhar uma flor azul pela segunda vez na vida de amores diferentes. O segundo é eterno – ufa pai, obrigada. Ressignificar para mim foi deixar de lado a bandeira da África do Sul, porque tá longe demais, no meio do caminho demais para mim que já sei o que quero no meu final e daí lembrei que existem outras bandeiras por ai. O Chile é logo ali aliás. Ressignificar foi escutar cada música e sorrir. Foi escutar Quando Você Passa e não doer cada vez que a Sandy canta “Turu” ou lembrar de certa voz e violão no sofá. Foi ver Aladdin sem lembrar de lágrimas de emoção no cinema e assistir Vis a Vis sozinha.

Ressignificar ainda tem muito o que ser para mim e será – tempo ao tempo. Ainda tenho que lembrar que significados vem e vão, mas os que importam, ficam de forma que nos fazem rir e não chorar. Não é que seja só uma música, um lugar, uma viagem, uma cor, uma flor, um emoji. Ainda é o que me faz lembrar de quem não está mais por perto, mas agora me lembra com alívio de sentir de outro jeito e dar a chance de conhecer novos significados.

E para você, o que foi ou tem sido ressignificar?

(9) Comentários

  1. Juliana diz:

    Que texto lindo!

    1. Obrigada Ju ????

  2. Juliana Saraiva diz:

    Eu amei esse texto!!!

    1. Você tá nele e continua aqui pertinho vivendo novos significados o tempo todo comigo, ufa ????

  3. Rafael diz:

    Parabéns pelo texto !!!

    Inteligente como sempre, assertiva como nunca !!!

    Te aconselho, a procurar maroom 5 em forró, talvez a mesma música .. pode te trazer significados novos kkk

    1. Obrigada querido leitor!
      Esses dias, tiveram a brilhante ideia de me mostrar Girls Like You em forró ????
      Vou colocar na minha playlist nova ao invés do pen drive do carro haha

  4. Izalene Moraes diz:

    AMEIIII!!!!! <3 As pessoas vão, as playlists ficam. Belíssimo texto, me emocionei e viajei em cada detalhe.

    1. Obrigada Iza! Bom te ter aqui nessa leitura também!

  5. […] de novo, pega uma barra de chocolate, um pote de sorvete, um vinho, tenta de novo depois e volta a ressignificar tudo mais uma […]

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